terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sábio da "Efelogia"

Tenho um livro de cabeceira com contos da cultura oriental escritos por Malba Tahan que ora ou outra eu fico a folhear. São histórias curtas, repletas de personagens marcantes que retratam o imaginário e a cultura dos povos do oriente, que alternam momentos de pura reflexão e do mais genuíno entretenimento. A meu ver a combinação perfeita de fatores que prendem a minha atenção por horas, desde a minha curiosidade crescente sobre a cultura oriental, até o meu constante estado de indagação e reflexão da vida.

Em certos momentos a reflexão ou a tal moral da história é descrita pelo próprio escritor ou fica em obviedade pelo decorrer da história, no entanto entre estas tantas histórias, me detive em um conto de outras tantas vezes lido, deliberando comigo mesma a respeito do ego humano. Como muitas vezes despretensiosamente no nosso falar, principalmente, deixamos transparecer a imagem de que somos detentores de um conhecimento superior aos demais, como sábios ou especialistas. Como nosso ego se inflama com os olhares admirados diante da nossa eloquência.

Com um mundo em constante processo de globalização fica para trás quem não sabe qualquer coisa sobre alguma coisa. “Não sei”, não é mais uma expresso aceitável (salvo crianças e olhe lá!). Por isso procure saber sobre tudo ou então utilize recursos como: permanecer em silêncio e fazer “cara” de quem sabe e em determinados momentos balançar a cabeça positivamente como se concordasse com o que está sendo dito, ou então, mudar de assunto repentinamente sutilmente, onde você o domina e fica confortável em monologar a vontade. Quem nunca?!

No conto referido denominado “O sábio da Efelogia” o misterioso Vladimir kolievich em sua imagem solene e calada assombrava os seus ouvintes derramando uma erudição espantosa quando resolve elucidar a jovem Sônia Baliakine a cerca do Rio Falgu, e com simplicidade e clareza continua a contar curiosidades a cerca das “filazenes”, Fuillet, Flaubert ...aparentando homem de tão grande cultura, até admitir que só sabia muito bem sobre coisas que começam com a letra “F”, sua erudição que causara tanto assombro , não ia além dos vários capítulos decorados da letra “F” de uma velha enciclopédia. Ciência que ele mesmo denominara “Efelogia”. Tipo esse, semelhante a muitos outros que encontramos a cada passo na vida, verdadeiros sábios da Efelogia.

O que me leva a pensar que na verdade o que se passa hoje é que muito pouco sabemos de tudo, e muito mais sobre qualquer coisa que nos torne especialistas. É muito mais fácil concordar com o que de fato não sabemos e dominar o assunto que nos torna superior a qualquer um que saiba menos sobre a mesma coisa.

Observo assim pontos distintos da questão, a garantia da atenção é o conhecimento e não vejo nada demais em saber mais sobre o que realmente te interessa mas daí esperar ser bajulado ou ser o foco da atenção é o que eu não entendo. Não falo isso como se estivesse isenta desse desejo quase que inevitável de experimentar essa sensação excitante de admiração, mas definitivamente não agüento quando tudo isso se torna uma competição. Sendo assim fica a necessidade de se perguntar, pra que tudo isso???



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