sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Duas Rosas, Nada mais

Gosto de imaginar-te velhinho
a contar estórias para uns netos lindos
que não serão meus.
Talvez seja um pensamento de vingança
contra mim mesma que te quero tanto,
contra o destino que me obriga a te dizer adeus.

Contando aquela estória tola
que o amor escreveu por ironia
quando tomou duas linhas paralelas
colocando-as lado-a-lado, certo dia.

Conta-a. Nada mais fomos do que personagens:
poderiam ser outros, mas nos escolheu.
Estava escrito que assim seria,
não tivesse culpa, não a tive eu.

Depois, que houve? O amor purifica.
De tudo apenas ficou a lembrança
das rosas que eu te dava cada dia,
num gesto ingênuo e tolo de criança.

Gosto de imaginar-te velhinho
de cabelos brancos,
repetindo a história que eu contaria:
- Era uma vez uma menina sem juízo
que me dava duas rosas cada dia ...

Sempre duas rosas cor de sonho,
cor do amor que seu olhar me dava.
Mas de medo eu não entendia,
de triste ela não falava.

- Por que você chora, vovozinho?
as crianças te perguntarão.
- É que as rosas eram ela e eu
na jarra triste da sublimação.

Gosto de imaginar-te terminado a história
com uma pergunta quase sempre assim:
- Será que no céu já não se plantam flores
ou será que lá se esqueceu de mim?

Myrtes Mathias

À um amor não vivido ...
Lud.

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